quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Notícias: FLIP anuncia a vinda de António Lobo Antunes


Escritor arredio à "parte mundana da literatura",o português António Lobo Antunes tem sua presença confirmada em dois eventos literários no Brasil neste ano: a 7 Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece de 1 a 5 de julho, e a 13 Jornada de Passo Fundo, entre 24 e 28 de agosto.
Vencedor do Prêmio Camões em 2007, Lobo Antunes já cogitado para o Nobel. No Brasil, o escritor é publicado pela Objetiva/alfaguara, que já lançou seis de seus livros:
"Boa Tarde às coisas aqui em Baixo" (estava escrito assim no jornal), " Memória de elefante", " Os cus de Judas", " Conhecimento do Inferno", " Eu Hei-de amar uma Pedra" e "Ontem Não te vi em Babilônia". Em junho, a editora publica seu mais recente romance< " Meu nome é Legião".

FONTE: Folha de S. Paulo (quinta-feira,22de janeiro de 2009):Ilustrada

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A leitura da poesia


Caros amigos,
Como já lhes disse: a leitura da poesia é para mim um desafio. Ainda não tenho nenhum comentário sobre o livro " Poema sujo", além do óbvio sobre Gullar: uma escrita engajada. Arriscaria em dizer: um desabafo de um exilado.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Estou lendo...


Estou lendo o livro " O roubo da Mona Lisa: o que a arte nos impede de ver" do psicanalista Darlan Leader. A obra é bem elogiada. Fiquei curiosa.
Na própria obra (orelha)há a seguinte passagem:
" Quando Mona Lisa foi roubada do Museu do Louvre em 1911, mas de 24 horas se passaram antes que alguém percebesse seu desaparecimento. Depois, multidões acorreram para ver o espaço vazio onde o quadro estivera exposto. o que poderia ter atraído tanta gente a ficar de olhos pregados numa parede branca e vazia? ... Pode o comportamento dessa pessoas nos dizer algo sobre as razões que nos levam a olhar obras de arte...?"

Parece bom! Quem gosta de psicanálise vai adorar Leader.
Abraços.

E vocês? O que estão lendo?

Entrevista no blog


Caros amigos,
O blog inicia sua caça aos escritores para xeretar sobre suas vidas e obras. A primeira entrevista confirmada é, gentilmente, cedida pelo escritor Lúcio Marques que possui o livro " Exôdos, Encontros Desencontros"
Breve biografia: Lúcio Marques Ferreira Filho é mineiro de Juiz de Fora.Trabalhou em uma empresa aérea brasileira de renome.Atualmente é professor de inglês.
Sua obra possui comentários de grandes escritores de várias regiões como: Moacyr Scliar, José Caludino Marques (Suíça), Francisco Ferreira (Itália), entre outros.
Aguardem a entrevista. (previsão: 23 de janeiro)

O pessimismo e o humor em Schopenhauer

Demorei-me comentar o livro “A arte de escrever”, pois duelava com questões: como criticar um clássico e ser honesta? Bem, então aqui vai...Sinceramente, achei o autor pessimista, (isso todos já sabem) com idéias ferozes sobre a escrita e sobre a língua. No entanto, as passagens em que ele expõe o valor e incompletude da tradução foram excepcionais.
O livro (antologia de ensaios recolhidos de Parerga e Paralipomena) está dividido da seguinte maneira: “Sobre a erudição e os eruditos” (onde há muita crítica sobre o ensino e os intelectuais, até salpicado de humor); “Pensar sobre si mesmo”; “Sobre a leitura e os livros” (a dica dele é não ler muito e, sim, refletir mais. Dar o tempo para digerir o que se leu. Pensar por si só é exercitar a crítica e não a repetição de autores);

O excesso de leitura tira do espírito toda a elasticidade, da mesma maneira que uma pressão contínua tira a elasticidade de uma mola. O meio mais seguro para não possuir nenhum pensamento próprio é pegar um livro nas mãos a cada minuto livre.

“Sobre a escrita e o estilo” (neste ele menciona os erros de quem escreve, as comparações que ele utiliza e os motivos delas, as críticas aos livros que têm grande público, entre outros).
Segundo o tradutor -Pedro Süssekind-, os escritos de Schopenhauer continuam “válidos-hoje, talvez mais do que nunca”.
O título do livro fica mais evidente nas passagens sobre o estilo e a escrita. A arte de escrever, então, seria “cortar palavras”, evitar a prolixidade de tudo àquilo que não valesse o esforço da leitura. Como já disse, realiza muitas comparações, muitas delas me aborreceram. A explicação dele é que a partir das analogias, o leitor entende algo complexo quando comparado ao simples. Facilitaria a leitura se não usasse tanto...rs
Achei-o um purista, pois trata as línguas antigas como perfeitas e menospreza a assimilação de outras expressões em sua linguagem.
Valeu-me a primeira leitura deste livro. O escritor e professores sempre aconselhamos (assim também me incluo) ler duas vezes a obra para obter outras interpretações ou melhorar a que possui. Entretanto, amigos, não lerem de novo tal livro. Apenas aguardo a leitura que tiveram.
Abraços.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Recebi uma indicação para o Prêmio Dardos


"Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, étnicos, literários, pessoais, etc.Que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web."

Agradeço à amiga Aline pela indicação que possui um excelente blog sobre autores, obras e download de livros. Vale a pena conferir:http://poesiaexpressaodaalmavidaeobra.blogspot.com

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Ferreira Gullar- FLIP 2006- comenta sobre o contexto em que escreveu" Poema sujo"

Vale a pena assistir!

Estou lendo...


Após a leitura de " A arte de escrever" quis me aventurar nos poemas.
Ler poesia, para mim, sempre foi mais difícil; talvez por ter que parar muitas vezes e refletir sobre cada verso, encontrar compreensão entre os não-ditos e demorar-me no todo. Desnudo assim, minha limitação. No entanto, persisto tentando aprimorar sempre minhas leituras. Escolhi, de Ferreira Gullar, o livro " Poema Sujo"- coleção Folha de S.Paulo.

E você? O que está lendo?

Ah! Não esqueci dos comentários sobre o livro de " Shop" (intimidade...rs). Estou escrevendo ainda...aguardem.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

" Escrever, essa foi a única coisa que habitou minha vida e que a encantou. Eu o fiz. A escrita não me abandonou nunca." Marguerite Duras

Duras em " Escrever" relata as agruras em se trabalhar com a escrita. Lembrei-me deste livro por causa da obra abaixo de Schopenhauer. É uma dica legal para quem gosta de metalinguagem.

A arte de escrever de Arthur Schopenhauer



Assim como disse nosso poeta maior, Drummond, " escrever é cortar palavras" (os poetas entendem) acredito ser esta frase a síntese para o livro " A arte de escrever" de Schopenhauer. Estou sendo muito reducionista? Talvez. A leitura deste livro me fez perceber o quanto escrevemos demais para explicar pouco. Às vezes, a prosa (quando escrevemos, é claro)nos faz divagar e perder o objetivo.
A escrita é um risco para quem se aventura.
Li uma resenha muito boa neste site:http://www.livrariacultura.com.br
Aguardem mais impressões sobre o livro.

sábado, 10 de janeiro de 2009

“ Os cem melhores contos do século”: realmente


Como sabem, estou lendo em casa, quando dá um tempinho, “Os cem melhores contos do século” e concordo com o professor Fiorese que disse, em aula, que ler contos é como estar em uma festa e conhecer várias pessoas.
A coletânea é dividida por décadas: anos 40/50, anos 60...e assim por diante. A apreciação de contos nos permite manobrar o livro (objeto mesmo) de acordo com as escolhas que faça. Isso é ótimo. Não há ordenação para a leitura o que me dá total liberdade.
Iniciei pelos anos 90 chamados “Estranhos e intruso” que, segundo o organizador –Italo Moriconi- é uma época de hibridismo de aceitação do diferente, da diversidade na literatura. Temos, então, Rubem Fonseca, Sérgio Sant’Anna, Rubens Figueiredo, Carlos Sussekind, Myriam Campello, Moacyr Scliar, Siviano Santiago, entre outros. (desculpem-me por não escrever todos os autores).
Os primeiros que li desta seção trabalham bastante com o proibido, como: pseudo-pornografia (continua com hífen, né?), com o incesto e bastante crítica descarada.
Se “o inferno mesmo é amar o proibido” ( do conto “ olho” de Myriam Campello-p.549), queimemos na brasa.
Boa leitura!

Diálogo sobre “A ilha desconhecida” - José Saramago


Caros amigos,
Após o belíssimo comentário de Denise, voltei à leitura deste conto - “A ilha desconhecida”- para aqui escrever mais uma vez sobre o autor português e, juntos, nos indagar sobre a obra. Nesses diálogos, pretendo estabelecer algumas considerações a partir de livros trazidos por vocês (acredito que ficará mais interativo).
Então...a alegoria que Saramago utiliza para as portas, sendo uma delas, a das “petições” (logo no início do conto) nos faz lembrar das várias portas que deixamos abertas ou fechadas de nossa própria existência. Às vezes quando na porta das petições alguém bate, nos fazemos de desentendidos assim como o rei e sentamos perto da entrada dos “obséquios”. (Realmente esta passagem será melhor entendia para quem leu o conto. Parece confuso, só parece). Contentamo-nos com a hierarquia burra de nosso sistema, acreditando ser eficiente:“Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha”
A insistência do homem que queria o barco é o mote de todo o conto, pois é isto que o levará a encontrar o desconhecido. “Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia", logo se atrever a buscar o desconhecido é da natureza humana. É desbravador e, claro, natural. Embora concorde com a amiga Denise que disse que o personagem é superior aos outros por ter tal iniciativa e sensibilidade.
Tal reação inesperada de coragem deste homem do barco mobilizou as outras pessoas que assistiam passivas o governo de suas próprias vidas pelo rei (típico da monarquia e da falsa democracia. Então qual política? Isto eu não sei): “O homem desceu do degrau da porta, sinal de que os outros candidatos podiam enfim avançar, nem valeria a pena explicar que a confusão foi indescritível, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro lugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez.”
As portas fechadas nunca foram vasculhadas pela população por pura comodidade da não-ação. A empregada destemida abre a “porta da decisão”, que nunca “fora aberta” e sai do palácio. Quantas portas dessa abrimos? O homem do barco, sem querer, ajuda a abrir outras portas.
Se todo homem é uma ilha, estamos sozinhos em nós mesmos e nesse lugar há muito de desconhecido. O não-conhecido é que, quase todos, procuramos: “quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.”
Resume bem estar parte do conto que se explica por si só: “Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios”.
E, como é difícil sairmos de nós mesmos!
Essa foi minha leitura! E a sua?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Qual o melhor livro que já leu até hoje? Consegue responder?


Difícil responder, não é? Por isso, tentei ajudar com " até hoje", pois há alguma obra que irá lhe incomodar no futuro ( no melhor sentido de incomodar). Não há nenhuma epifania literária, acredito eu, mas alguns nos marcam, seja pelo personagem, seja pela própria escrita...sei lá, cada um reconhece um bom livro de uma forma.
Tenho duas obras que não me esqueço: " A Paixão segundo G.H." de Clarice Lispector e " O Estorvo" de Chico Buarque.

e vocês?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

trailer do filme " O caçador de pipas"

Estou lendo....

Descobri a paciência que a leitura me oferece no mundo real..rs então, levo na bolsa o livro “ A arte de escrever” ( fininho) do Schopenhauer e em casa estou lendo “ Os cem melhores contos brasileiros do século” ( grosso: não dá para levar na bolsa), seleção de Ítalo Moriconi.

Sobre “O caçador de Pipas”

Enfim, terminei a leitura após cinco dias me perdendo por tantas descrições que o autor realiza. E, como deveria escrever algo para vocês, carreguei a obra para todos os lugares e percebi a paciência que a leitura me proporcionou. Sei que fiquei horas na fila do banco e demorei-me na espera de uma consulta, mas relevei por causa da minha distração.
Bem, com relação ao livro, achei de bom gosto a questão tratada pelo escritor sobre a dedicação na amizade e a maneira como ele prendeu a leitura ( a cada ato de desprezo pelo Hassan, a covardia de Amir, a frieza do baba, entre outros).
Havia muitos clichês, fielmente retratados pelo próprio personagem que admitia que eles eram de “precisão impressionante” (p.199) e, ainda na mesma página, “O problema é que a adequação das expressões-clichês é ofuscada pela natureza da expressão enquanto clichê”. Deixa ele, né? Não vou entrar nesse mérito de clichê, é muito clichê.
Gostei da tradução de Maria Helena Rouanet que nos deixou algumas expressões afegãs, como baba, Salaam alaykum, noor dos olhos (achei lindo, não sei o significado preciso, mas sei que é uma expressão de elogio). Como a traduziblidade é a aproximação da língua e não a certeza dela em outra cultura, apreciei a forma do livro.
No início, os nomes me pareceram muito confusos e de difícil assimilação, mas deu para pegar e me lembrar de todos, confesso que a do próprio autor...rsrs
Na edição especial que inclui a carta para os leitores, Hosseini escreve algo que compartilho: “ percebo a habilidade única que a ficção tem de conectar as pessoas, e vejo quão universal algumas experiências humanas são: vergonha, culpa, arrependimento, amor, amizade, perdão e redenção.” Certamente, a literatura exerce esta união, sem parecer piegas por isso, e sim porque realmente acredito que através dela possamos nos conectar, assim como pretendo fazer com este blog: unir conhecimento.
Parece demais ter duas obras iguais, mas essa com as ilustrações ofereceu-me alguns mapas que foram úteis para compreensão. Meu imaginário não alcançou a questão espacial. Tratar Talibã, Cabul, Afeganistão...para mim, só com mapa...rsrs
A cor da personalidade das duas crianças contrastava e ficava esperando alguma mudança de comportamento. Para o narrador “as crianças não são cadernos de colorir. Você não tem de preenchê-lo com suas cores favoritas”. P29 (do mais puro clichês para vcs.) as cores estavam bem definidas no começo. Ainda que o livro carregue a previsibilidade em alguns aspectos, sabemos do fim de Amir, ficamos ansioso quando se dará a mudança. Demorou!
Tentando interpretar a obra, finalizei com a seguinte compreensão (me provem que preciso pensar diferente): Hassan era um excelente caçador de pipas, pois sabia exatamente onde ela iria cair, assim como sua vida. Sabemos que sempre fora mais esperto que Amir, apesar do pouco estudo. Por sua vez, Amir empinava a pipa com a ilusão de que controlava sua vida, mas na obra notamos os ventos que desarticularam o garoto. A culpa não o deixava viver em paz e foi ela quem a fez mudar de atitudes e trazer consigo o filho de Hassan (que para mim é a alegoria da culpa perdida no Afeganistão). O bom mesmo é pegar a pipa que cai.
Não vou seguir o conselho do meu amigo Gustavo e lançar o livro do Cristo, mas lanço aqui o desafio de outras leituras.
Abraços.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A leitura do " Caçador de Pipas"


Caros amigos,
Estou no final do livro e não consigo acabá-lo. Nas páginas finais ele tomou muita consistência e imagino como o autor irá finalizar.
Aguardem mais linhas sobre tal obra, apenas escrevo estas para atualização do blog e, talvez, para justificar a escolha desse livro.
Trabalhar com literatura ou somente apreciá-la a gente fica com algumas
" obrigações", há algumas leituras que devemos fazer. Nunca gostei de ler os livros citados como " os dez melhores". Não acho que assim se faz o valor da literatura (pela vendagem), mas diante de alunos curiosos sobre a livro do momento, considero que, alguns, precisemos ler para efetuar um diálogo com os estudantes e motivá-los ao debate sobre livros.
Sendo assim, refiro-me às escolhas de algumas obras que fogem aos canônicos.
Até mais!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Dicas de sites:

Visitem este site de Juiz de Fora:http://www.oclick.com.br/almanaque/litera.html. É bem completo sobre o que rola na cidade e oferece artigos interessantes.
Tenho alguns escritos na seção Literatura, confiram!

O site da Revista eletrônica Darandina http://www.darandina.ufjf.br/ é principalmente formado por publicações acadêmicas, mas recebe também textos criativos. É bom visitar e saber sobre as produções contemporâneas.

Boa leitura!

Dicas de livros e autores:

Estou lendo para escrever no blog " O caçador de Pipas" de Khaled Hosseini da editora Nova Fronteira. Temos também a edição especial ilustrada do romance ( é bacana também).

Para quem gosta de poesia: o livro de Gustavo Goulart, " Estado ao vento" é ótimo. Poesia contemporânea de bom gosto, com interpretações inovadoras e, algumas vezes, engraçadas sobre o cotidiano. Vale a pena conferir o autor que este ano lançará sua nova obra.

Dê suas sugestões!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Entrevista com José Saramago

Qual o livro que você leu?

Dê o seu depoimento. Vamos discutir sobre literatura de maneira prazerosa e fugir das
"verdades" criadas pelos críticos profissionais. Vamos ser nossos próprios críticos e ler para interagir com o mundo.

"Ensaio sobre a cegueira": livro e filme


"Ensaio sobre a cegueira": livro e filme

Ganhei o livro “Ensaio sobre a cegueira" já com a imagem de uma das cenas do filme (segunda capa que, na realidade, tornou-se a primeira, para garantir a venda) e fiquei curiosa sobre o filme de Fernando Meirelles.
A leitura foi intensa devido às descrições que Saramago proporcionava a cada detalhe nos fazendo imaginar toda a cena. Gostei da idéia dos personagens não terem nome, apesar de ficar, às vezes, cansativo. No próprio livro há, talvez, uma explicação: “Os cegos não precisam de nome, eu sou esta voz que tenho, o resto não é importante”. P.275
A cada página, uma surpresa. Assim foi quando, no inicio, deu-se a cegueira. Depois na casa destinada à quarentena. O grupo de cegos para comandar. A mulher que via.
Demorei-me na leitura, mas valeu a pena refletir sobre a cegueira de todos nós, a total desorganização do ser humano, a adaptação, ao egoísmo e a lei do mais forte. Surpreende-nos o equilíbrio sugerido pelo livro (assim li) dos mais fortes e suas ações. A mulher do médico que “numa terra de cegos” tem um olho e é “rei”, quis ajudar os cegos, abdicando-se de descanso e prazer para ser o olho de quem não vê. De outro lado, os cegos experientes que se aproveitaram da cegueira paralisante das pessoas, assim como o ladrão do carro do primeiro cego. Assim é o ser humano: bom e mau. “O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las”. P.276
A moralidade também foi diluída, ou melhor, para cada situação uma nova moral. Oferecer as mulheres como moeda de troca parecia ser justo naquela situação, ter relações sexuais com vários também é perdoado. Afinal somos todos uns animais. Quanto à lei convencionada da boa convivência e decência eram lembradas ali, havia alguém para recordar que naquele momento as leis eram diferentes.
Na obra, a questão da falta de higiene foi bastante explorada pelas eternas descrições da imundice e dos excrementos humanos sendo, portanto, piores do que os animais, pois sujavam seu próprio abrigo.
“As mãos são os olhos do cego” P.302 e o tato foi a pedra crucial para detalhar a vida do cego, embora achasse que poderia haver mais relatos no livro. No filme tem uma passagem linda em que o casal (o oftalmologista e a mulher) estão juntos, ele passa a mão pelo rosto da esposa e declara que, daquela maneira, ele a via.
A produção cinematográfica obedece fielmente às passagens da obra, sendo fácil saber a cena que virá a seguir. Entre as cenas, o diretor colocava uma luz forte branca que, segundo o autor português, a cegueira era o mal-branco ou a treva branca.
Meirelles respeita a ordenação do livro e acrescenta poucos detalhes. A escolha dos atores também, ao meu ver, foi muito boa. Houve poucos provérbios sobre a relação cego-mundo (no livro há muitas passagens, não as achei para escrever para vocês, deveria ter marcado). Algumas vezes, por tamanha disparidade proposital do autor, evidente, eu estava a rir das situações dos personagens segundo os ditados populares que Saramago entrelaçava no texto.
Em nenhuma das formas (livro e filme) há a explicação sobre a origem da cegueira e a cura. Fiquei a pensar sobre a cegueira que temos sobre alguma passagem de nossa vida. Será? Esta indagações que são interessantes quando estamos lendo. Até as mais banais e, por que não, forçadas? Reflexão não é assumir apenas uma opinião.

E O FINAL, AMIGOS? O QUE ACHAM?

“A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco. Chegou minha vez. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava.” P.310

Confesso que na leitura eu havia entendido que ela também cegara. No filme, achei que não. Agora, estou na dúvida. O fato de a cidade ainda estar ali foge ao fato de ela ver ou não. Fechar com esta frase me deixou sem saber.

Saiba sobre a blog

Meu interesse em criar este blog foi favorecer um espaço para a discussão sobre os livros que li com outras pessoas e, desta forma, interagir de maneira informal com outros leitores a fim de conhecer opiniões, críticas e sugestões sobre obras e autores.